Desde muito cedo, é preciso ensinar o valor do dinheiro aos
filhos. Mas como fazer isso?
Bonecas, roupas, jogos e aparelhos eletrônicos, um chocolate
no bar da escola. As tentações do mundo do consumo fazem parte da rotina
infantil, e os apelos são cada vez mais constantes entre as crianças. Se para
muitos adultos lidar com o dinheiro e as finanças já é uma tarefa complicada,
ensinar os pequenos lidar com os limites das compras pode ser ainda mais
difícil.
Por mais que os pais queiram escolher o melhor momento para
abordar o assunto com as crianças, a percepção dos pequenos sobre o dinheiro já
começa a ser formada antes mesmo de o tema entrar em pauta.
— Mesmo que você não fale diretamente com as crianças sobre
as finanças, o assunto já está inserido no contexto familiar desde sempre. Elas
observam os pais, a maneira como eles lidam com o dinheiro, o poder e as
aquisições. A educação financeira não está isolada da educação global e deve,
portanto, ser considerada desde o princípio — explica a psicóloga e terapeuta
familiar Maria Alice Targa.
As primeiras lições começam nas atitudes simples do
cotidiano. As recomendações de não deixar a torneira aberta ao escovar os
dentes, apagar a luz ao sair da sala ou não desperdiçar comida no prato mostram
aos pequenos que mesmo as coisas mais fundamentais de uma casa devem ser
valorizadas, preservadas e, claro, precisam ser pagas.
— É importante dar às crianças a consciência de que nada vem
do céu. Há pesquisas que comprovam essa ideia: se você não explica que muitas
coisas na vida têm um custo, elas pensam que "foi papai do céu quem
deu" — esclarece o economista Alfredo Meneguetti, professor da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Negociação e paciência são importantes para domar os ímpetos
consumistas das crianças
As compras da família Von Hohendorff, de Ivoti, são sempre
acompanhadas pela filha Isabele, 11 anos. Desde pequena, ela está inserida na
rotina financeira dos pais, o advogado Daniel e a arquiteta Liziane. No supermercado,
tudo é negociado.
— Fazemos as contas juntos: se trocarmos essa marca de
iogurte pela outra, o que podemos comprar com a diferença? Assim vamos
negociando e ela vai aprendendo a administrar as finanças — conta Daniel.
Hoje, Isabele já faz suas próprias compras administra uma
mesada, mas sua responsabilidade com o dinheiro foi inserida aos poucos, sempre
com base em bons exemplos e muita conversa.
— No começo pode até ser um pouco complicado, mas os ganhos
são muito grandes. É claro que é mais fácil passar o cartão de crédito e dar
aquilo que a criança pede, mas a gente fala tanto em ecologia e
sustentabilidade e vai criar um consumista dentro de casa? — indaga Daniel.
E não é somente em casa que Isabele aprende sobre finanças.
No colégio em que ela estuda, o Instituto de Educação Ivoti, a educação
financeira faz parte do currículo há mais de 10 anos. Desde as séries iniciais,
os professores desenvolvem atividades que incentivam o hábito de economizar.
E quando a grana está curta?
Os desejos de consumo das crianças costumam aparecer com
mais frequência quando elas começam a se socializar, e o desejo de ter o mesmo
que o amiguinho é despertado. Se as finanças da família estão apertadas e não
permitem comprar algo que é muito desejado e valorizado pela criança, a
negociação entra em cena.
— A conversa é o ponto principal nesse momento. Você
negocia, explica que é preciso esperar, que o pagamento será feito aos poucos.
As crianças precisam ter a noção que existem outras prioridades nas finanças da
família e que não se pode ter tudo no momento em que se quer — explica a
psicóloga e terapeuta familiar Maria Alice Targa.
A frustração é inevitável e, mais do que isso, fundamental.
Ela ajuda a valorizar as conquistas, a lidar com as limitações da vida e a
alimentar os desejos e as aspirações.
— O não bem dito e explicado sempre traz um ganho. As
crianças que têm menos, que almejam e que esperam costumam ter menos episódios
depressivos em suas vidas. Quem tem tudo não deseja nada e não valoriza nada.
Lições de economia infantil
O economista Alfredo Meneguetti mostra as cinco lições que
podem ajudar os pais a falar sobre finanças com as crianças. Confira:
1. Mostre para as crianças que as coisas que ela têm em casa
não são dadas, que há um custo diário para manter a vida funcionando. Explique
que a água da torneira e a luz da sala são pagas pelos pais e, portanto,
precisam ser economizadas.
2. A
partir dos seis ou sete anos, a criança deve acompanhar os pais nas compras do
supermercado. Explique o custo dos produtos, mostre o quanto se gasta para
comprar a carne, a massa, o leite. Assim, ela vai assimilando os valores.
3. Nesta mesma idade, comece a dar algum dinheiro
semanalmente para a criança. Pode ser um valor pequeno, de R$ 15. Ela vai
administrar essa quantia e perceber que, se gastar tudo no mesmo dia, não terá
mais depois.
4. Compre um ‘porquinho’ para que a criança possa ter uma
poupança ao começar a administrar seu dinheiro. Este é um recurso antigo e
pouco usado atualmente, mas muito eficaz, pois o valor depositado nele não pode
mais ser usado quando quiser. Essa distância do dinheiro é importante.
5. Estabeleça metas com as crianças, seja de uma quantia a
ser economizada ou de alguma compra. Os pais devem construir e realizar os
sonhos com as crianças, fazendo com que elas participem desse processo.
E você, está conseguindo educar/domar o ímpeto consumista de
seu filho?
Fonte: ZH